Arriscando-me em um conto!
Era uma vez uma menininha, muito delicada,
linda, amável, mas que muitas vezes ficava triste porque sua vida tinha muitas
limitações. Ela era feita de porcelana. E por isso quase não brincava, não
corria, não aprontava como as outras crianças...
Sua mãe costumava
limpá-la com cuidado e a colocava sentadinha na cadeirinha, como uma louça que
é posta na estante para ser admirada e ali ela ficava bem quietinha.
A Menina de Porcelana olhava
para as outras meninas e admirava-as por serem feitas de materiais bem mais
resistentes que ela: havia a vizinha ao lado, a Menina
de Madeira e amiga dela, que era a líder da turma, a Menina de Ferro. Todos a admiravam pela sua força.
A Menina
de Porcelana tinha
medo de entrar numa brincadeira mais pesada, como queimado que era a preferida
da galera da rua e levar uma bolada e se quebrar.
E
assim aquela menina ia passando os dias, sempre pelos cantos, vendo a vida
passar. Mas um dia mudou-se para a sua rua uma menina especial, que chamou logo
a sua atenção. A tal menina andava sempre com um
guarda-chuva enorme. E uma bela manha, a Menina
de Porcelana criou
coragem e aproximou-se da nova vizinha na calçada:
–
Oi, tudo bem? - Disse a Menina de Porcelana.
–
Tudo bem. Qual o seu nome? O meu é Doçura.
–
Doçura?! Que
interessante! O meu é Delicadeza.
– Que belo nome você tem! o meu é Doçura pois
sou feita de açúcar. E o seu, por que é Delicadeza? Do que você é feita?
–
Sou feita de porcelana. Ah, então agora entendi porque você esta sempre com
esse guarda-chuva... Tem medo de derreter-se, se chover, né? Sua vida deve ser
muito limitada também, não é mesmo?
–
Olha, eu tenho minhas limitações sim, se a chuva for muito forte eu posso derreter
então vivo com meu guarda-chuva, caso caia uma chuva de repente. Mas não deixo
de fazer a maioria das coisas de que gosto.
A
partir daquele dia, a Menina de Porcelana começou a agir diferente, ia mais à
rua, conversava mais, até que um dia algumas meninas, entre elas a de Ferro e de Madeira a convidaram para brincar de queimado e ela sem graça e
triste disse que não podia. As meninas saíram, debochando dela, que nunca
entrava na brincadeira.
Nesse
momento, Doçura que se aproximava e ouviu a
conversa, perguntou:
–
Por que não pode? Vamos brincar!
–
Não posso, se eu levar uma bolada posso me quebrar toda.
–
Se você se quebrar, seus pais a colam novamente. O que você não pode é se
privar das coisas de que tem vontade, não pode deixar de curtir a vida.
Naquele
dia, Delicadeza foi pra casa e ficou pensando no que Doçura lhe dissera. Começou a conversar com
seus pais e sobre o assunto e descobriu que seus irmãos mais velhos já se
quebraram muitas vezes e foram colados, mas como ela era a caçulinha seus pais
tentavam protegê-la de tantas emendas, não queriam que ficasse cheia de
“cicatrizes” como seus irmãos.
No
dia seguinte, ela resolveu chamar Doçura
para brincar de bola. Queria treinar queimado. Doçura jogou com cuidado e ela
não sofreu nenhuma rachadura. Com isso , Delicadeza
foi ganhando confiança, até que um dia aceitou o convite das colegas de Madeira e de Ferro.
Defendeu-se bem das
boladas, acertou algumas nas meninas que ela via como tão fortes e quando já
estava começando a se cansar, levou uma bolada não muito forte na perna esquerda e sofreu algumas rachaduras. Doçura socorreu-a e levou a para casa, onde
seus pais a colaram com carinho.
A
partir daquele dia, Delicadeza percebeu que quando enfrentamos nossos
medos, eles ficam menores. Aos poucos ela foi conquistando confiança em si
mesma e também a admiração das outras meninas, que já não a viam como tão
frágil, mas apenas uma menina que como outras quaisquer têm seus pontos fracos.
Demorou
algum tempo até que Delicadeza descobriu que até mesmo a Menina
de Madeira e a de Ferro tinham seus pontos fracos, afinal
ninguém e inatingível. E assim Delicadeza passou a viver mais feliz, focando-se
em suas qualidades que eram muitas, como inteligência, amabilidade, simpatia e
quase nem se lembrava de suas limitações.
Quando
reconhecemos nossas fraquezas e contamos com a ajuda daqueles que nos amam, nos
tornamos mais fortes e felizes.